Transgeneridade e escrita em si: trajetórias discursivas e construção de subjetividades
Data
2023-08-28
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Editor
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
Resumo
Esta pesquisa se baseia na análise da escrita de si de sujeitos transexuais, compreendida enquanto estética de si e tecnologia de resistência em relação à ordem cisheteronormativa que incide sobre corpos e subjetividades. Analisamos a escrita de si empreendida por quatro sujeitos transexuais no livro “Vidas Trans: a coragem de existir”: Amara Moira, Márcia Rocha, João W. Nery e T. Brant. A partir das reflexões de Foucault sobre escrita de si; governamentalidade; biopolítica; regimes de verdade; objetivação e subjetivação, em diálogo com a Teoria Queer e com a Teoria Feminista e Transfeminista, buscamos compreender como estes sujeitos constroem suas subjetividades e afirmam suas identidades transgêneras. Recorremos aos trabalhos de Judith Butler (2010, 2011, 2016, 2017, 2018); Letícia Nascimento (2021); Guacira Lopes Louro (1997, 2020), Jota Mombaça (2017); Preciado (2011, 2022), dentre outros, para pensarmos o fenômeno da transgeneridade e a constituição de sujeitos trans na sociedade. Utilizamos, também, a Teoria Semiolinguística, de Patrick Charaudeau (2004, 2006, 2008, 2008b, 2017), com os conceitos de situação e contrato comunicacional, modos de organização do discurso (descritivo, narrativo e enunciativo) e imaginários sociodiscursivos, para realizar as análises de temáticas discursivizadas por esses sujeitos, além de operacionalizar interpretações das narrativas baseados nos imaginários sociodiscursivos, na observação de ethé, segundo Ruth Amossy (2005), e dimensões patêmicas. Observamos, como a escrita de si, ocorrendo a partir de uma situação de comunicação, recorre aos modos de organização do discurso, a partir dos quais percebemos certos imaginários sociodiscursivos relacionados a essas identidades transgêneras. O que nos leva a compreender que a construção e afirmação das identidades de gênero não é estável, como propõe a lógica binária. O gênero é constituído, também, por atos performativos, sendo algo que se torna e não algo com que se nasce. Por outro lado, sendo essa uma identidade compósita, o gênero é apenas parte da constituição da subjetividade. As narrativas trazem processos de autodescoberta e autoaceitação dos(as) autores(as), configurando, nessa escrita de si, uma parte da subjetivação dos sujeitos, projetando ethé, relacionados a um antes e a um depois do processo transicional, e dimensões patêmicas, como o medo, que passa à alegria, à potência de vida e liberdade com seus processos de transição. Os Modos de Organização do discurso são mobilizados para a realização dos projetos de fala, ressaltando-se o comportamento elocutivo, no Modo Enunciativo, que traz os pontos de vista e visões de mundo dos enunciadores. A pesquisa realizada, assim, mostra não apenas questões relacionadas às identidades trans e sua construção no e pelo discurso, mas, também, o debate, hoje visto, sobre a liberdade de gênero enquanto um direito cidadão. Debate para o qual a Análise do Discurso de linha francesa traz a sua contribuição.
Descrição
Palavras-chave
Pessoas transgênero, Mulheres transgênero, Teoria queer, Narrativas pessoais, Análise do discurso