Bolsonaro fala à nação: o conflito discursivo na construção de um simulacro populista
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Data
2024-09-10
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Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
Resumo
A pesquisa tem como propósito verificar de que maneira o discurso filiado à extrema direita internacional foi institucionalizado por Jair Bolsonaro no exercício da Presidência do Brasil. O político de carreira, com 28 anos de atuação no Congresso Nacional, venceu as eleições de 2018 com uma retórica vulgar, ofensiva e antissistema, sustentada em desinformação e fake news, que foi vista como parte de um discurso autêntico, em uma percepção ingênua e perigosa para aqueles que viram esse movimento como uma ameaça ao sistema democrático. A investigação parte de uma discussão sobre a relevância desse comportamento transgressor na condução das ações governamentais. Ele deveria ser colocado em segundo plano ou ser considerado como fator constituinte da maneira do presidente governar? De que forma essa estratégia discursiva foi legitimada e utilizada para dar credibilidade às declarações oficiais dirigidas à nação? Tendo como perspectiva norteadora a Teoria Semiolinguística e os estudos do discurso político de Patrick Charaudeau, a busca pelas respostas se deu a partir da análise de um conjunto de oito pronunciamentos do ex-presidente, transmitidos em cadeia nacional de rádio e televisão, entre 2019 e 2022. Por meio de um esquema metodológico, elaborado a partir da estrutura do ato de linguagem, foram traçados dois fluxos analíticos para caracterizar a situação de comunicação e apontar os efeitos de sentido nela gerados. Foi demonstrado que o sujeito comunicante (EUc) busca projetar para o destinatário (TUd) um enunciador formado, principalmente, por dois fluxos geradores de efeitos de sentido: o político (mais associado ao ethos pré-discursivo, formatado pela rede interdiscursiva filiada à extrema direita) e o presidencial (associado à liturgia do cargo e moldado pelos termos firmados no contrato de comunicação). O trabalho resgata o contexto político e social no qual se deram os atos enunciativos para apontar os principais sentidos que caracterizam o ethos, o pathos, os imaginários e os elementos pré-validantes deste contrato. A pesquisa também apresenta, nos dois primeiros capítulos, um apanhado histórico que resgata fatores determinantes para entender a ascensão da extrema direita no país e as influências do tecnopopulismo, do negacionismo e do neofascismo na política bolsonarista. Ao final do estudo, considerando o resultado dos gestos analíticos, propõe-se um método para visualizar como o discurso de Jair Bolsonaro foi erguido a partir de imaginários populistas e estratégias de manipulação adotadas para mascarar as suas reais intenções. O ex-presidente imprimiu sentidos que fizeram suas falas oficiais transgredirem o contrato pré-estabelecido. Uma transgressão que não ocorreu de maneira estética, mas discursiva. Se, por um lado, Bolsonaro não se expressou de forma vulgar e agressiva; por outro, recorreu aos imaginários formadores de seu jeito autêntico. Emergiu dos pronunciamentos representações e características do discurso populista filiado à extrema direita, que acabaram representando um reforço institucionalizado a ideias autoritárias e antidemocráticas. A partir dos principais fatores identificados na análise do corpus, foi possível constatar como o ex-presidente, na condução das ações governamentais, fundamentou seus discursos majoritariamente em crenças subjetivas, deixando em segundo plano o pragmatismo que poderia guiá-lo em situações de crise. O trabalho aponta como Bolsonaro, portando-se como um agente de impostura, desvirtuou os pronunciamentos com a finalidade de legitimar um simulacro populista.
Descrição
Palavras-chave
Bolsonaro, Jair, 1955-, Discurso político, Populismo, Comportamento manipulativo, Análise do discurso