Biopolítica, cinema e a construção do devir-afro-pindorâmico

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Data

2019-12-12

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Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Resumo

A presente tese analisa a imagem do sujeito negro no Brasil, produzida por autores brancos ao longo dos séculos de escravidão e após a abolição, para a criação e manutenção do ideário colonial e a normatização da opressão pelo racismo. Parte-se da análise da representação fotográfica da população brasileira durante o período escravocrata, quando é possível detectar o uso das imagens para a construção de um conceito de raça sem fundamentação biológica, com objetivo de estabelecer e perpetuar a superioridade branca. Sendo a escravidão uma das primeiras manifestações da biopolítica no mundo (MBEMBE), a extensão do poder senhorial sobre o corpo do escravizado à sua imagem é uma das provas dessa hipótese mbembiana. Essas imagens coloniais demandam ainda hoje a restituição de um nome (BENJAMIN) aos sujeitos negros retratados, a partir de uma exigência de redenção (AGAMBEN) – algo que o cinema é capaz, e como veremos, tem se ocupado em fazer. A impossibilidade de autorrepresentação da população negra nas imagens estáticas persiste nas imagens em movimento após a invenção do cinema, assim a pesquisa remonta o histórico da interdição do sujeito negro e a construção na primeira metade do século XX de um cinema nacional instrumentalizado pelas teorias racistas do branqueamento populacional e da democracia racial. Será analisada a repetição de problemas da representação negra feita por diretores brancos, do passado e do presente, à luz da nova produção teórica dos intelectuais negros e dos brancos anti-racistas – que incluem conceitos como branquitude, espectador resistente, fragilidade branca e interseccionalidade. A partir de uma perspectiva de biopolítica afirmativa, a pesquisa se concentra na tomada de controle da população negra sobre sua representação imagética, cujo marco é a obra “Alma no olho” (Zózimo Bulbul, 1973). Uma das hipóteses da pesquisa é que o cinema negro propiciou abertura para o surgimento de um cinema ligado ao território que responde às desterritorializações causadas pelo capital. Assim analisa-se o cinema dos quilombos e o cinema das ocupações urbanas em suas bases ligadas a um direito nativo antropofágico que destaca a posse ante a propriedade, o valor de uso em detrimento do valor de troca e garante a todo ser vivente uma terra. A partir dessa hipótese relaciona-se o cinema negro e o cinema dos territórios com o devir-negro do mundo (MBEMBE) e sua capacidade libertária, ancorada nas tradições insurgentes de resistência dos povos escravizados à opressão. Aproximando o pensamento de Mbembe com o do quilombola Antonio Bispo dos Santos, a pequisa aponta de forma inicial o devir-afro-pindorâmico como um caminho para se criar alternativas ao neoliberalismo. A tese conclui que estes cinemas são vetores de liberdade e atuam na desconstrução do racismo, cuja eliminação é condição para a reinvenção da comunidade, que por sua vez não se separa da produção do comum.

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Palavras-chave

Cinema - Negros, Biopolítica, Devir (Filosofia), Racismo, Quilombos, Direito à moradia

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