Doutorado em Estudos de Linguagens
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Navegando Doutorado em Estudos de Linguagens por Autor "David, Giani"
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Item Bolsonaro fala à nação: o conflito discursivo na construção de um simulacro populista(Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, 2024-09-10) Soares, Joarle Magalhães; David, Giani; http://lattes.cnpq.br/8863282319980625; http://lattes.cnpq.br/9316890112573582; Mendes, Paulo Henrique Aguiar; Sanglard, Fernanda Nalon; Silva, André Luiz; Andrade, Antônio Augusto BraicoA pesquisa tem como propósito verificar de que maneira o discurso filiado à extrema direita internacional foi institucionalizado por Jair Bolsonaro no exercício da Presidência do Brasil. O político de carreira, com 28 anos de atuação no Congresso Nacional, venceu as eleições de 2018 com uma retórica vulgar, ofensiva e antissistema, sustentada em desinformação e fake news, que foi vista como parte de um discurso autêntico, em uma percepção ingênua e perigosa para aqueles que viram esse movimento como uma ameaça ao sistema democrático. A investigação parte de uma discussão sobre a relevância desse comportamento transgressor na condução das ações governamentais. Ele deveria ser colocado em segundo plano ou ser considerado como fator constituinte da maneira do presidente governar? De que forma essa estratégia discursiva foi legitimada e utilizada para dar credibilidade às declarações oficiais dirigidas à nação? Tendo como perspectiva norteadora a Teoria Semiolinguística e os estudos do discurso político de Patrick Charaudeau, a busca pelas respostas se deu a partir da análise de um conjunto de oito pronunciamentos do ex-presidente, transmitidos em cadeia nacional de rádio e televisão, entre 2019 e 2022. Por meio de um esquema metodológico, elaborado a partir da estrutura do ato de linguagem, foram traçados dois fluxos analíticos para caracterizar a situação de comunicação e apontar os efeitos de sentido nela gerados. Foi demonstrado que o sujeito comunicante (EUc) busca projetar para o destinatário (TUd) um enunciador formado, principalmente, por dois fluxos geradores de efeitos de sentido: o político (mais associado ao ethos pré-discursivo, formatado pela rede interdiscursiva filiada à extrema direita) e o presidencial (associado à liturgia do cargo e moldado pelos termos firmados no contrato de comunicação). O trabalho resgata o contexto político e social no qual se deram os atos enunciativos para apontar os principais sentidos que caracterizam o ethos, o pathos, os imaginários e os elementos pré-validantes deste contrato. A pesquisa também apresenta, nos dois primeiros capítulos, um apanhado histórico que resgata fatores determinantes para entender a ascensão da extrema direita no país e as influências do tecnopopulismo, do negacionismo e do neofascismo na política bolsonarista. Ao final do estudo, considerando o resultado dos gestos analíticos, propõe-se um método para visualizar como o discurso de Jair Bolsonaro foi erguido a partir de imaginários populistas e estratégias de manipulação adotadas para mascarar as suas reais intenções. O ex-presidente imprimiu sentidos que fizeram suas falas oficiais transgredirem o contrato pré-estabelecido. Uma transgressão que não ocorreu de maneira estética, mas discursiva. Se, por um lado, Bolsonaro não se expressou de forma vulgar e agressiva; por outro, recorreu aos imaginários formadores de seu jeito autêntico. Emergiu dos pronunciamentos representações e características do discurso populista filiado à extrema direita, que acabaram representando um reforço institucionalizado a ideias autoritárias e antidemocráticas. A partir dos principais fatores identificados na análise do corpus, foi possível constatar como o ex-presidente, na condução das ações governamentais, fundamentou seus discursos majoritariamente em crenças subjetivas, deixando em segundo plano o pragmatismo que poderia guiá-lo em situações de crise. O trabalho aponta como Bolsonaro, portando-se como um agente de impostura, desvirtuou os pronunciamentos com a finalidade de legitimar um simulacro populista.Item Subjetividade e novos media em tempos de pós-verdade: um olhar analítico-discursivo em torno de (des)construções narrativas na contemporaneidade(Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, 2022-04-26) Azevedo, Andrey Ricardo; David, Giani; http://lattes.cnpq.br/8863282319980625; http://lattes.cnpq.br/5148457918364443; David, Giani; Lessa, Cláudio Humberto; Andrade, Antonio Augusto Braico; Mendes, Paulo Henrique Aguiar; Xavier, Mariana Ramalho ProcópioInvestigamos, sobaótica da Análise do Discurso(AD), formas outras de subjetividade emergíveis da pós-verdade em tempos de comunicação digital e disputas narrativas no jogo político-eleitoral. O objeto empírico parte das principais fake news propagadas durante as eleições presidenciais no Brasil, em 2018, para um posterior recorte metodológico envolvendo a questão dos valores (moral) e a temática do "kit gay", amplamente explorada durante o pleito. A problemática da subjetividade torna-se oportuna e instigante, neste caso, por apresentar lacunas ainda não suficientemente exploradas noâmbito da AD, sobretudo, da Teoria Semiolinguística, de Charaudeau, centrada na ideia de um sujeito dotado de autonomia. O caminho primeiro foi questionar essa autonomia, a partir de particularidades desse novo contexto capitaneado pelas fake news, que pudessem "subverter" elementos considerados basilares na teoria do sujeito charaudeana. Paralelamente, incorporamos à pesquisa, em perspectiva interdisciplinar, aportes teórico-metodológicos que pudessem cobrir eventuais lacunasnão previstas na Semiolinguística, como observar a recepção a partir de ideias trazidas por Benjamin(choque)e/ou Dunker (psicanálise). Buscamos explorar a questão do ethosem frentes distintas, bem como refletir sobre a dimensão ética com base em Marie-Anne Paveaue Foucault, entre outros autores. De Foucault, extraímos também importantes reflexões em torno das noçõesde poder, regimes de verdade e da própria concepçãode sujeito.Entre os resultados até aqui, vemos que o entendimento sobre a subjetividade, no ambiente das fake news, transpõem alguns "limites analíticos" previstos na Semiolinguística. Isso é perceptível, por exemplo, na medida em que o reconhecimento do contrato de fala fica comprometido, camuflado como se fosse de informação (midiático). Nessa mesma esteira, percebemos em jogo estratégias tendentes a "falsear" um equilíbrio, na organização dos saberes, desejável para o constructo das representações sociais e, por conseguinte, para a própria autonomia do sujeito. Referimo-nos, neste caso, na tendência de as fake newsse sustentarem nos saberes de crenças, mas se passarem por um saber de conhecimento. Merece também atenção a esfera da recepção (e seus efeitos), que, no âmbito dasfake newse das redes sociais digitais, deixa-se levar por uma compreensão rasa, distraída, sem muita ambiguidade, no processo interpretativo. Tais aspectos, em si, já denotam um sujeito sobredeterminado pela urgência das leituras e respostas, dos cliquese compartilhamentos, um processo seduzido pela "pulsão" e que nominamos "efeito latente de recepção". Por fim, no domínio externo (ser social), percebemos implícitas nas fake newsestratégias conduzidas por sujeitos que têm um projeto, político-ideológicoe neoconservador, mas que não o revela explicitamente. Vê-se então, embaçadas pelo universo da pós-verdade, construções narrativas consideradas manipuladoras, que limitam a heterogeneidade de vozes, asfixiam a singularidade e a alteridade. Em linguagem foucaultiana, não estaríamos diante de meras disputas pelo poder ou novos regimes de verdade, mas do desejo de se fazer valer um "estado de dominação" e quase aporia que, ao sufocar a liberdade, mostra seu desprezo pela própria dimensão ética.